sábado, 19 de março de 2011

é só um alguém.

Eu não sei o que me dá. Essa dor que me aperta o coração e eu sei que faz parte de um ciclo. Ele se foi e a dor começou. Um outro veio e logo partiu. Muitos outros se aproximam e, antes que possam acalmar ou piorar essa dor, vão embora. Mas eu nunca disse pra ninguém que esse pedaço de carne que tenho no peito aguentava tudo isso. Ele não aguenta. Ele foi feito para ser de alguém. Não sabe ser de outro jeito. Gosta de afago e de saber que tem um porquê pra pulsar todos os dias. E quando ele se vê sem ter um motivo pra estar ali, trabalhando incansavelmente, ele dói. Aperta meu peito, como se dissesse "Pelo amor de Deus, arruma alguém e bota aqui dentro!". E eu respondo: "Eu tô tentando!". Juro que tô. Juro que peço todos os dias a tudo e a qualquer ser maior que bote nesse coração uma razão. Não importa de que forma ele vai chegar, de como vai se portar e como vai partir. Se vai chegar hoje e amanhã já vai pegar as malas, sem nem me dar um bom dia. Só sei que não aguento mais. Meu coração não sabe mais trabalhar à toa e eu já não sei mais investir e ter que desistir.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

À espera.

E dessa vez eu sei o que está acontecendo.

Tá. Talvez eu saiba sim. Já se passou tanto tempo, mas eu sei que essa coisa se escondeu em algum cantinho desse coração machucado. Ela se guardou no abismo entre a crença e a descrença, entre o sabor amargo da desilusão e a doçura de uma paixão.

Demorou. Exatamente dois anos pra isso reaparecer. Pra tomar conta de mim, como um vulcão de nome estranho que entra em erupção e cria um caos aéreo ao redor do mundo. O caos está instaurado. E me deixou completamente aérea.

Hoje acordo de madrugada assustada, apalpando o parapeito da janela à procura do celular. Uma mensagem. Só uma mensagenzinha de boa noite. E o que aquele bendito envelope não faz com meu coração. Eu sento na cama, abro os olhos com toda dificuldade e leio palavra por palavra de uma frase qualquer.

Mas eu sinto medo. Não quero que tudo acabe, que você fuja por entre meus sonhos e seja mais um que balançou esse coração frágil. Não. Quero que você fique, que faça morada boa, que me leve ao topo da pedra e que de lá demore a sair. Quero que você faça do meu coração um cais, onde possa amarrar seu barco nos dias de tempestade. Quero que você faça da tormenta seu lago mais sereno. Você já tem permissão para aportar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sobre os que sonham

Tenho um jeito meio íntimo e ao mesmo tempo superficial de falar de mim. Há algumas superficialidades que me descrevem mais dos que as intimidades, o que raramente acontece com os que têm a árdua tarefa de descrever, assim como eu, algo um tanto sombrio como o território que nos habita. Começando pelo amanhecer, não é sempre que desejo dar um bom-dia para as flores e fazer daquelas 24 horas algo que se possa sentir saudades no futuro. Na verdade, “eis um aqui que não fará grande carreira no mundo. A emoção o domina”, já bem disse Machado de Assis.
Para as pessoas que dividem comigo o fardo dessa vida leviana e ingrata, diriam que eu bem daria para o mundo das artes, poderia até virar uma dessas moças de televisão. Não, não concordo. Quem desviaria olhares para esse pequeno ser, sem graça e sem luz? Mas não vou mentir, e nem omitir, que já fui tentada a estudar a arte de noticiar. Passar às pessoas o que acontece do outro lado do mundo, naqueles lugares que só se conhece pelos jornais e se sonha quando se deita a noite para descansar.
Ah, o sonho! O que seria de nós, pobres mortais, sem esse instrumento de viagem gratuita e sem fim? Nele posso ser bailarina, princesa, bandida e mocinha. Astronauta e escritora. Posso ter os pés no chão e a cabeça na lua.
De todos os meus sonhos, o que persigo é sempre o mesmo: o amor. Como deve ser bom poder sentir a felicidade de estar completo, de querer dar o melhor de si por outra pessoa e, mesmo o que não seja recíproco, não se importar se daqui a alguns dias ou alguns anos tudo isso não terá valido a pena.
Que bom que quando se escreve se pode ler o que foi escrito. Os sonhos, mesmo sendo para todos os que habitam a terra embaixo dos céus, não são na verdade para todos. Não para mim, pobre menina, que nasceu destinada a solidão e a ser apenas parte do cotidiano dos que sonham.
Triste fim para essa que quis ter um pouco do mundo, um pouco do mínimo. Para aquela que lutou não por um espaço físico, mas por um lugar emocional. Um lugar em que se pudesse ser quem se é, sem ter medos dos fantasmas da alma.
Mas como de nada adianta todos esses porquês, eu desisto de tentar me explicar e desisto mais ainda atentar me entender. Deixo para os que se inquietam achar a respostas de tais questões o desafio de me descrever em algumas poucas palavras. De antemão, digo que isso poderá ser uma epopéia de uma aventura sem volta.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ao amor antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
no de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige, nem pede. Nada espera,
ms do destino vão nega sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona,
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

Ps.: Dedicado a quem me mostrou esse poema num lindo dia, num lindo lugar.

sábado, 14 de novembro de 2009

Pés na estrada

Porque agora eu cansei. Hoje dou um basta nisso tudo. Dou um basta na tristeza e mesmo que ela queira ficar, farei questão de esquecê-la. Tenho o mundo pela frente e estou cheia de me agarrar a um passado que não me faz bem. Deixo as mágoas no chão, o choro no lençol e coloco a esperança no bolso. Saio sem rumo, de cabeça erguida e coração aberto. Não faço promessas, porque as juras são inúteis quando se tem um coração mole.

Hoje dou um basta nisso tudo. Seguro minha dor, as pontadas que meu coração sente. Te boto de canto e, depois de tanto escancarar o peito machucado, me fecho pra tudo que aconteceu. Troco de roupa, me visto com felicidade dos novos dias e com a bolsa repleta de vontades, me deixo ir mundo a fora à espera do bom que há de vir.

E quando olhar as fotos antigas, espero não me encontrar. Quero me procurar nas aventuras caladas ou nos tédios eufóricos e me achar totalmente nova. Tudo isso porque me cansei de remoer um passado de verdades e mentiras, onde não consigo destingui-las. E com essa vontade eu vou em frente, sabendo que consigo ser bem melhor sozinha.
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"E não adianta nem me procurar em outros timbres, outros risos. Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu."