sexta-feira, 12 de março de 2010

Sobre os que sonham

Tenho um jeito meio íntimo e ao mesmo tempo superficial de falar de mim. Há algumas superficialidades que me descrevem mais dos que as intimidades, o que raramente acontece com os que têm a árdua tarefa de descrever, assim como eu, algo um tanto sombrio como o território que nos habita. Começando pelo amanhecer, não é sempre que desejo dar um bom-dia para as flores e fazer daquelas 24 horas algo que se possa sentir saudades no futuro. Na verdade, “eis um aqui que não fará grande carreira no mundo. A emoção o domina”, já bem disse Machado de Assis.
Para as pessoas que dividem comigo o fardo dessa vida leviana e ingrata, diriam que eu bem daria para o mundo das artes, poderia até virar uma dessas moças de televisão. Não, não concordo. Quem desviaria olhares para esse pequeno ser, sem graça e sem luz? Mas não vou mentir, e nem omitir, que já fui tentada a estudar a arte de noticiar. Passar às pessoas o que acontece do outro lado do mundo, naqueles lugares que só se conhece pelos jornais e se sonha quando se deita a noite para descansar.
Ah, o sonho! O que seria de nós, pobres mortais, sem esse instrumento de viagem gratuita e sem fim? Nele posso ser bailarina, princesa, bandida e mocinha. Astronauta e escritora. Posso ter os pés no chão e a cabeça na lua.
De todos os meus sonhos, o que persigo é sempre o mesmo: o amor. Como deve ser bom poder sentir a felicidade de estar completo, de querer dar o melhor de si por outra pessoa e, mesmo o que não seja recíproco, não se importar se daqui a alguns dias ou alguns anos tudo isso não terá valido a pena.
Que bom que quando se escreve se pode ler o que foi escrito. Os sonhos, mesmo sendo para todos os que habitam a terra embaixo dos céus, não são na verdade para todos. Não para mim, pobre menina, que nasceu destinada a solidão e a ser apenas parte do cotidiano dos que sonham.
Triste fim para essa que quis ter um pouco do mundo, um pouco do mínimo. Para aquela que lutou não por um espaço físico, mas por um lugar emocional. Um lugar em que se pudesse ser quem se é, sem ter medos dos fantasmas da alma.
Mas como de nada adianta todos esses porquês, eu desisto de tentar me explicar e desisto mais ainda atentar me entender. Deixo para os que se inquietam achar a respostas de tais questões o desafio de me descrever em algumas poucas palavras. De antemão, digo que isso poderá ser uma epopéia de uma aventura sem volta.