segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

À espera.

E dessa vez eu sei o que está acontecendo.

Tá. Talvez eu saiba sim. Já se passou tanto tempo, mas eu sei que essa coisa se escondeu em algum cantinho desse coração machucado. Ela se guardou no abismo entre a crença e a descrença, entre o sabor amargo da desilusão e a doçura de uma paixão.

Demorou. Exatamente dois anos pra isso reaparecer. Pra tomar conta de mim, como um vulcão de nome estranho que entra em erupção e cria um caos aéreo ao redor do mundo. O caos está instaurado. E me deixou completamente aérea.

Hoje acordo de madrugada assustada, apalpando o parapeito da janela à procura do celular. Uma mensagem. Só uma mensagenzinha de boa noite. E o que aquele bendito envelope não faz com meu coração. Eu sento na cama, abro os olhos com toda dificuldade e leio palavra por palavra de uma frase qualquer.

Mas eu sinto medo. Não quero que tudo acabe, que você fuja por entre meus sonhos e seja mais um que balançou esse coração frágil. Não. Quero que você fique, que faça morada boa, que me leve ao topo da pedra e que de lá demore a sair. Quero que você faça do meu coração um cais, onde possa amarrar seu barco nos dias de tempestade. Quero que você faça da tormenta seu lago mais sereno. Você já tem permissão para aportar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sobre os que sonham

Tenho um jeito meio íntimo e ao mesmo tempo superficial de falar de mim. Há algumas superficialidades que me descrevem mais dos que as intimidades, o que raramente acontece com os que têm a árdua tarefa de descrever, assim como eu, algo um tanto sombrio como o território que nos habita. Começando pelo amanhecer, não é sempre que desejo dar um bom-dia para as flores e fazer daquelas 24 horas algo que se possa sentir saudades no futuro. Na verdade, “eis um aqui que não fará grande carreira no mundo. A emoção o domina”, já bem disse Machado de Assis.
Para as pessoas que dividem comigo o fardo dessa vida leviana e ingrata, diriam que eu bem daria para o mundo das artes, poderia até virar uma dessas moças de televisão. Não, não concordo. Quem desviaria olhares para esse pequeno ser, sem graça e sem luz? Mas não vou mentir, e nem omitir, que já fui tentada a estudar a arte de noticiar. Passar às pessoas o que acontece do outro lado do mundo, naqueles lugares que só se conhece pelos jornais e se sonha quando se deita a noite para descansar.
Ah, o sonho! O que seria de nós, pobres mortais, sem esse instrumento de viagem gratuita e sem fim? Nele posso ser bailarina, princesa, bandida e mocinha. Astronauta e escritora. Posso ter os pés no chão e a cabeça na lua.
De todos os meus sonhos, o que persigo é sempre o mesmo: o amor. Como deve ser bom poder sentir a felicidade de estar completo, de querer dar o melhor de si por outra pessoa e, mesmo o que não seja recíproco, não se importar se daqui a alguns dias ou alguns anos tudo isso não terá valido a pena.
Que bom que quando se escreve se pode ler o que foi escrito. Os sonhos, mesmo sendo para todos os que habitam a terra embaixo dos céus, não são na verdade para todos. Não para mim, pobre menina, que nasceu destinada a solidão e a ser apenas parte do cotidiano dos que sonham.
Triste fim para essa que quis ter um pouco do mundo, um pouco do mínimo. Para aquela que lutou não por um espaço físico, mas por um lugar emocional. Um lugar em que se pudesse ser quem se é, sem ter medos dos fantasmas da alma.
Mas como de nada adianta todos esses porquês, eu desisto de tentar me explicar e desisto mais ainda atentar me entender. Deixo para os que se inquietam achar a respostas de tais questões o desafio de me descrever em algumas poucas palavras. De antemão, digo que isso poderá ser uma epopéia de uma aventura sem volta.